Isto da vida de emigrante

Nem sei se sou bem uma emigrante normal... sim, quando venho a casa delicio-me com o pão, sonho com secretos de porco preto e açorda de camarão. Passeio pelo Porto e pergunto-me porque diabo saí daquela cidade. Mas, ao contrário do que muitos podem pensar, não vivo a pensar nas coisas que não tenho quando estou lá. Não passo a vida a cozinhar batatas com bacalhau ou a amaldiçoar o café inglês. Sim, desta vez estou a fazer tráfico. Levo pão, uma taça de marmelada, bolo da mel da Madeira, castanhas. Mas também é verdade que tudo isto são coisas que cá eu traria da minha aldeia para o Porto e seguramente ia pedir ao meu irmão que me trouxesse bolos da Madeira. São mimos, não porque não possa viver sem eles mas porque todos temos direito a mimos.
Pensei muito nestas coisas esta semana. Pensei em quando regressarei, pensei em que Sandra regressa. Não já porque não penso voltar nos próximos anos, mas pensei muito na vida que vivo, nas coisas que como, nos amigos e nas saudades que tenho deles. Mas também percebi que também sou e de feliz fora de Portugal, não preciso vir cá todos os meses para me sentir inteira.  Não preciso comer comida portuguesa para me sentir bem. E gosto muito de viver numa cidade que todos os dias me alarga os horizontes e alarga o mundo. E ainda por cima, gosto de viver numa cidade curiosa, que prova de tudo, que aceita todos os que vierem e se está nas tintas para de onde são desde que façam o que têm para fazer.
Há alguma coisa de bairrista por aqui com que já não me identifico, essa é que é essa.

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