Férias

Quero, mal toco na maçaneta do portão da rua, ouvir a minha mãe dizer para o meu pai, sentado na sala do fundo, "Marido, a filha já chegou!".
Quero comer arroz de pato e ir buscar morangos à horta.
Quero sentar-me nas escadas do balcão, à sombra da parreira, a ouvir as histórias e a ver as fotografias da viagem do meu irmão à Índia.
Quero deitar-me no meu quarto na aldeia a ouvir o silêncio.
Quero ver a família e falar com os meus pais.
Quero passar noites no meu terraço, a sentir-me em casa.
Quero jantar com os amigos e pôr a vida em dia.
Quero abraçar os sobrinhos emprestados e os filhos dos amigos e contar-lhes que a tia Sandra está numa terra longe, onde os meninos são cor de chocolate e os bebés dormem a sesta agarrados às costas da mãe.
Quero jantar sushi e beber copos no Pavilhão Chinês.
Quero passear pelo Porto, entrar nas retrosarias e nas lojas e galerias da Miguel Bombarda.
Quero sentar-me no meu sofá a reler livros que não vieram e a absorver a energia boa da minha sala.
Quero ver filmes (o Harry Potter ainda está em cartaz?).
Quero fazer compras e meter na mala tudo o que está na minha lista "Trazer de Portugal".
Quero ver mais amigos e comer francesinhas.
Quero ver com a minha mãe como é que vamos acabar a manta (toda a gente devia ter uma mãe prendada como a minha!)
Quero ouvir o meu pai queixar-se do calor e do frio e dos jornais.
Quero fazer km rodeada de bolas de granito e pinheiros.
Quero passar finais de tarde no Solar do Vinho do Porto a ver os raios de sol passar por baixo da ponte e reflectirem no Douro.
Quero ver como anda o país e a campanha eleitoral e ler o Público enquanto tomo café.
Quero encher os olhos de céu azul e sol a brilhar e saber, que durante uma semana, o tempo é todo meu.