Luanda no livros
Gosto de ler livros passados em cidades que conheço. Esse é um dos mtivos porque gosto do Peter Hoeg.
Confesso que nunca tinha lido nada de autores africanos até chegar aqui. Mas Pepetela e Agualusa estão a tornar-se um vício. E sei que é porque percebo o que dizem. Conheço a paisagem, a cidade, as ruas, as pessoas. E Angola desfila em frente aos meus olhos pelas páginas dos livros. Ontem descobri mais uma dessas página. Isto vai ser longo mas esta é a Luanda que vejo:
"Hoje, misturam-se pelas ruas de Luanda o umbumdo oblongo dos ovibundos. O lingala e o francês arranahdo dos regrês. O português afinado dos burgueses. O surdo português dos portugueses. A isto junte-se, com os novos tempos, uma pitada do mandarim elíptico dos chineses, um cheiro a especiarias do árabe solar dos libaneses; e ainda alguns vocábulos em hebreu ressuscitado, colhido sem pressa nas manhãs de domingo, em alguns dos bares mais sofisticados da Ilha. Mais o inglês, em tons sortidos, de ingleses, americanos e sul-africanos. O português feliz dos brasileiros. O espanhol encantado de um outro cubano que ficou para trás.
E toda esta gente movendo-se pelos passeios, acotovelando-se nas esquinas, numa es´pécie de jogo universal de cacr-cega. Moços lírios. Moças tísicas. Empresas de esperança privada. Chineses (de novo) em revoada. Meninos vendendo cigarros, chaves, pilhas, pipocas, cadeados, almofadas, cabides, perfumes, telemóveis, balanças, sapatos, rádios, mesas, aspiradores. Meninas vendendo-se à porta dos hóteis. Meninos apregoando quimbembeques, espelhos, colas, colares, bolas de plástico, elásticos para o cabelo.(...)"
in As mulheres do meu pai, José Eduardo Agualusa
Confesso que nunca tinha lido nada de autores africanos até chegar aqui. Mas Pepetela e Agualusa estão a tornar-se um vício. E sei que é porque percebo o que dizem. Conheço a paisagem, a cidade, as ruas, as pessoas. E Angola desfila em frente aos meus olhos pelas páginas dos livros. Ontem descobri mais uma dessas página. Isto vai ser longo mas esta é a Luanda que vejo:
"Hoje, misturam-se pelas ruas de Luanda o umbumdo oblongo dos ovibundos. O lingala e o francês arranahdo dos regrês. O português afinado dos burgueses. O surdo português dos portugueses. A isto junte-se, com os novos tempos, uma pitada do mandarim elíptico dos chineses, um cheiro a especiarias do árabe solar dos libaneses; e ainda alguns vocábulos em hebreu ressuscitado, colhido sem pressa nas manhãs de domingo, em alguns dos bares mais sofisticados da Ilha. Mais o inglês, em tons sortidos, de ingleses, americanos e sul-africanos. O português feliz dos brasileiros. O espanhol encantado de um outro cubano que ficou para trás.
E toda esta gente movendo-se pelos passeios, acotovelando-se nas esquinas, numa es´pécie de jogo universal de cacr-cega. Moços lírios. Moças tísicas. Empresas de esperança privada. Chineses (de novo) em revoada. Meninos vendendo cigarros, chaves, pilhas, pipocas, cadeados, almofadas, cabides, perfumes, telemóveis, balanças, sapatos, rádios, mesas, aspiradores. Meninas vendendo-se à porta dos hóteis. Meninos apregoando quimbembeques, espelhos, colas, colares, bolas de plástico, elásticos para o cabelo.(...)"
in As mulheres do meu pai, José Eduardo Agualusa
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