Era para estar calada....

... Mas sou tão portuguesa como a malta que fez greve esta semana. E este blog é meu e posso escrever o que quiser. Por isso, aqui vai: Expliquem- me lá, caríssimos grevistas e sindicalistas e outros istas que tais, que diabo se lucrou com a greve geral desta semana. É que visto daqui, não se lucrou nada. Perdeu-se foi um dia de trabalho, dinheiro perdido deitado par o lixo pelo que não se fez. E qual é a parte que a Malta ainda não percebeu (bom, se calhar têm razão para não ter percebido porque ninguém diz isto alto e bom som...) que o problema do país é a falta de produtividade? Qual é a parte que não perceberam que temos de estar focados a trabalhar, a fazer verdadeiramente o nosso melhor, que temos de reduzir o tempo que se passa na cozinha da empresa a tomar café e a falar mal da administração e dos políticos e que só assim, a trabalhar a sério, é que vamos conseguir sair da cepa torta? Mas não, é verdade, a culpa não é de todos. Nós somos todos uns fixes que fugimos aos impostos sempre que podemos, ficamos felizes quando enganamos o patrão e estamo-nos nas tintas para o país até que nos vão ao bolso.... Nós somos todos o exemplo de esforço, responsabilidade, concentração e empenho.... Pois, sou eu que devo estar enganada.... Sou eu que devo estar louca ao achar que , nesta fase do campeonato, os sindicalistas fazem um péssimo serviço aos trabalhadores e ao país quando mandam um dia de trabalho ao lixo. E eu devo estar parva ao achar que os otários são aqueles que mesmo sem transportes tentaram chegar ao trabalho porque têm coisas para fazer e responsabilidades assumidas. Não me entendam mal. Respeito as conquistas sindicais. Só que hoje a luta tem de ser para manter o que se conseguiu e isso só se faz quando criarmos riqueza em vez de estar à espera que o dinheiro nos caia do céu. Por isso, vista por alguém que está a trabalhar no estrangeiro, que valoriza imenso Portugal e sabe, porque pode comparar com muitos lugares, o quanto é bom viver em Portugal, a greve é um desperdício, é um gozar com a minha cara que estou aqui a dar no duro e a pagar impostos que vão pagar os salários da malta que anda a fazer greve. Estamos bem. Espero que tenham aproveitado o dia.

Comentários

Tobias disse…
Subscrevo.
Só acrescento... Os "animais" que usaram do seu direito a fazer greve, mas que se esqueceram que os outros têm o mesmo direito de optar e de não fazer greve, e tentaram impedi-los... os que foram identificados, presos, ou coisa que tal... Foi muito bem feito! Para a próxima, que se lembrem que ainda estamos numa democracia!
Beijinhos
margarete disse…
Deixou o repto “Expliquem-me lá, caríssimos grevistas“ pelo que, ao invés de simplesmente a linkar para “uma explicação”, tentarei mostrar o meu “porque sim”…

Obviamente que não falo por todos os grevistas assim como não insulto os que decidem não o fazer.

A greve não trata de lucro mas antes da oportunidade de manifesto, a oportunidade de manifesto de indignação “comum”.

Decidir fazer greve requer reflexão e a decisão difícil de abdicar de um dia de ordenado e saber que se estará a prejudicar o bom funcionamento da engrenagem.

Há duns e doutros, bem sei, mas gosto de imaginar que, assim como não ponho todos os não-grevistas no mesmo saco (até porque conheço pessoas que desejariam fazer greve mas não tinham “condições”), as pessoas têm bom senso e também não julgam os grevistas da mesma forma, do género “ena! Um dia de folga!”. Pois não, a greve não é isso para muita gente. A greve é, para muita gente, a oportunidade de “fazer número” de manifestar a sua indignação, gente essa que trabalha, que cumpre (pasme-se, os grevistas também são gente trabalhadora e cumpridora!) e que participa de forma activa na comunidade.

Deixo exemplos de algumas “partes que a malta ainda não percebeu”: como é que se “engole” que o problema do país é “só” falta de produtividade; como é que aparecem números todos os dias a comprovar as disparidades na tomada de medidas contra a crise que aumentam o fosso entre ricos e pobres; como é que querem aumentar o custo de andar nas estradas se, por outro lado, aumentam o custo dos transportes públicos assim como diminuem a sua oferta; como é que se anuncia o empobrecimento e sacrifícios na mesma sessão em que se anuncia orçamentos para comissões e quejandos, externos, quando temos cá dentro com que nos amanharmos; etc etc… erm, cá do meu lado, não consigo mesmo encaixar (talvez me consiga explicar) como é que, governo atrás de governo (sejam lá quem eles forem) no meio dos resgates da banca, fica sempre por taxar $$$ e €€€ escondido em paraísos fiscais, a escuridão do que se passa com as PPP, ou, como sugeriram os ricos franceses “taxez nous!”.
Enfim, não consigo, mesmo, nem ainda, perceber a política fiscal deste país e, vá, achei que tinha o direito e o dever de me indignar, e não tanto por mim, que ainda pago contas, mas pelos utentes que frequentam o sítio público onde trabalho e onde vejo, a ritmo galopante, as consequências destas medidas para as pessoas (acredite, é desolador e assustador o que as pessoas estão a perder).

Fala-lhe uma pessoa focada no seu trabalho, que faz verdadeiramente o seu melhor, que não perde tempo “na cozinha da empresa a tomar café” mas que está atenta, analisa e que comenta, sim, a administração e os políticos.

Fala-lhe uma pessoa que também conhece pessoas que acham legítimo trabalhar num sítio e receber baixa doutro, fugir a impostos, assim como patrões enganados mas também patrões que enganam e vão ao bolso do empregado.
A ironia disto é: algumas dessas pessoas que conheço não fizeram greve (alguma vez abdicariam de um dia de ordenado por uma causa? O que é isso, afinal, “uma causa”? ingenuidades, ‘né?).
A cereja no topo do bolo: do meu círculo, as pessoas que não fizeram greve são das que nem se dão ao trabalho de ir votar (é mais fixe aproveitar o dia para ir à praia).

O facto de haver pessoas prejudicadas pela greve faz parte de se viver numa democracia, é o preço que temos de pagar pela liberdade de expressão. Eu, por exemplo, tenho de aceitar que os grupos d extrema-direita tenham voz, e… não desejaria que fosse doutra forma pois ainda me resta acreditar na democracia.
Da minha parte, posso dizer-lhe que, embora grevista, tenho formas, pesos e medidas de modo a minimizar o prejuízo de terceiros pela minha opção. E muitos dos meus amigos também assumem esta responsabilidade.
margarete disse…
Não estou à espera que o dinheiro caia do céu, acontece é que não admito a nenhum governante que ponha e disponha da minha contribuição desta forma leviana… ficando calada.

A minha greve, embora a possa considerar um desperdício, não foi leviana (isso não).
Quanto a gozar com a sua cara, quero crer que foi apenas um desabafo seu.

Agora, repare: eu “também” pago impostos, eu dou no duro e… fica a saber que não me paga o ordenado com os seus impostos, sou eu que pago o meu ordenado (é o que diz o meu relatório anual de produção, e ainda sobra) assim como sou eu que vou gerir o mês seguinte com menos um dia de ordenado.

Aproveitei o dia, sim, para ir manifestar-me para a rua.

Visito o seu blog com alguma regularidade desde que decidi ir para Angola. Estou a preparar-me e o objectivo final é o Canadá (onde nasci, também sei o que é a emigração).
Quero sair daqui porque estou farta de ser honesta e receber nada (com insultos) em troca. Trabalhar na função pública neste país é o equivalente a ser-se pessimamente remunerado (tenho o mesmo escalão e ordenado há 10 anos) e ainda por cima ser-se constantemente mal-falado e difamado pelo resto da população.

Nunca tinha comentado por aqui mas o seu último parágrafo fez-me pensar “comento ou nunca mais aqui volto?”. Lido bem com o facto de discordar das pessoas, mas não lido bem com a moral vigente que não trata de discussão dos assuntos mas antes duma constante arbitragem do outro.

Vamos procurar um culpado? Bom, pergunto, acha mesmo que o que pesou mais para a situação actual foram os comportamentos dos trabalhadores ou as políticas?

Aos 37 anos, nunca tendo sido militante de qualquer partido, com tendências políticas mas sem simpatias específicas, dou por mim desalentada no meio de um povo que se vê agredido em nome da banca e que se cala pois ainda não recuperou da herança de ser um povo que não consegue viver sem um pai que mande em si, e assim, um povo resignado que critica aquele que tenta manifestar-se. E assim se faz a desunião para governar. A fórmula sempre resultou, a história o tem demonstrado.

Espero que não me interprete de forma hostil ou agressiva, não foi essa a intenção, mas foi de facto com “intensidade” que respondi pois aborrece-me ver o povo a maltratar-se, insultar-se e a fazer juízos de valor entre si enquanto grande parte dos políticos são todos amigos (seja qual for a sua cor) e, no fim, acabam a estudar em Paris ou com empregos de gestão de topo com ordenados chorudos e reformas múltiplas.

Para isso, prefiro ir a Angola dar o meu contributo 2 ou 3 anos (a minha área profissional é rara, quase inexistente, em Angola) receber por isso e depois ir para um país em que o que se contribui com impostos é equivalente ao estado social.

Posto isto, espero que não "se irrite" com o tamanho do meu comentário (ok, "testamento", reconheço)
;)
Sandra Coelho disse…
Margarete, adorei ler os seus comentários! Cada um tem a sua maneira de ver a vida, eu reservo-me o direito de ter a minha e de a exprimir aqui e aceito que nem todos concordem.
Eu percebo a sua luta, não sou é fã de greves e manifestações. Mas percebo e respeito.
Espero não a ter irritado ao ponto de nunca mais a ver por cá.
Tobias disse…
Eu também gostei de ler o seu comentário e dou valor à sua posição. Ainda bem que no meio das minhas experiência sobre quem faz greve, há de facto um testemunho (que me parece muito válido e fundamentado)de que há gente que de facto está lá para defender a causa. Eu, como trabalho numa empresa privada cumpridora, acho de facto que o melhor é trabalhar cada vez mais e melhor, produzir.
O termo ofensivo que usei no meu comentário anterior, foi feito de cabeça quente. "Risco" o termo que usei, mas continuo com a mesma opinião: se é correcto usarmos a nossa liberdade de escolha para fazermos greve, é correcto darmos a mesma liberdade a quem não quer fazê-la.
Cumprimentos e um pedido de desculpa à "Mau Feitio" por possível uso abusivo do seu blog!
Helena disse…
Eu nunca fiz greve na minha vida (sempre trabalhei no privado) mas respeito quem a faz e quem decide não fazer e como tal respeito a sua opinião também.

Oh "Mau Feitio", agora essa de que paga impostos que vão pagar os salários da malta que anda a fazer greve... sinceramente... não lembra nem ao diabo e "irritou-me" mesmo. Pense lá um bocadinho e vai ver que a frase que escreveu é um perfeito disparate.
Sandra Coelho disse…
Helena, as greves irritam-me! Acho que não levam a nada. Muito menos na situação actual. E portanto, qualquer ineficiência é paga por todos. E até pode haver grevistas decentes e convictos e que sabem o que fazem, e o dia de greve até pode não ser pago, mas não deixa de ser verdade que no dia seguinte de certeza que se perderam muitas horas a falar da greve em horário laboral na função publica e os meus impostos ajudaram a pagar isso. E custa-me. Lamento mas custa. Nunca fiz greve, nunca faltei ao trabalho, devo ter perdido no máximo uma meia dúzia de dias por doença durante anos (excepto uma baixa por um problema que o meu trabalho agravou e que implicou uma operação) e esforço-me e vou à luta. E acredito que é possível. Se calharei tenho uma leitura diferente de muita gente. Azar....
tasjaber disse…
Porquê da austeridade? Por causa do sobrendividamento do estado. Porquê? Porque gasta mais do que recebe, devido a muitos "negócios" mal feitos, prejuízos avultados do sector empresarial, má gestão, despesas fixas elevadíssimas, entre as quais salários e direitos adquiridos, e das quais sente dificuldade em libertar-se. Porquê? Porque as pessoas sentem-se lesadas e fazem greve. Porquê? Para manifestar o seu descontentamento e lesar financeiramente a entidade empregadora de modo a que esta considere que os prejuízos dos protestos são superiores aos dos direitos pretendidos. E quem paga o prejuízo? Neste caso, o Estado, através de receitas extraordinárias que tem de implementar. Como? Através de medidas de austeridade e aumento de impostos, claro...