Tempo de pensar

Tudo muda. O entusiasmo que sentia pelo projecto pessoal que Angola significava foi-se esbatendo. Conheci gente fantástica, fiz amigos, vivo lá. Mas o cansaço começa a fazer-se sentir. A falta de paciência instala-se. Tenho a sensação que foi chão que já deu uvas. Não digo que vá deixar de ser feliz lá mas já não tenho a mesma curiosidade. O que quer que ainda haja para viver por lá será bem-vindo, mas fazia alegre e contente as malas de regresso definitivamente a casa já.
Cansei-me de não viver no meu espaço. Cansei-me do não poder caminhar na rua. Cansei-me de me irritar no trânsito.
Perdi o olhar pitoresco dos primeiros tempos. Perdi o olhar tolerante do segundo ano. Agora sinto que vejo as coisas por um véu de irritação.
Mais um ano, Sandra Maria. Só mais um ano. Concentra-te, compra uma garrafa de Bombay e sobrevive.
Se calhar estou só a sofrer do efeito férias. Estou no lugar de que gosto. Se calhar estou só com demasiado tempo nas mãos para pensar (é o que dá passar horas no carro de um lado para o outro a tentar contrariar a ineficiência dos serviços). E por favor, quem ler não me venha com os comentários clássicos do "estás melhor lá fora", "este país é uma seca...". Não ajuda e só me vão irritar.