O direito de ser feliz
Pois, eu sei. Mas será que nos dão mesmo esse direito? Eu sei que tenho a maior das sortes do mundo! Eu e o meu irmão crescemos tendo apenas 2 exigências por parte dos meus pais: que fossemos felizes e que tirássemos um curso superior (na medida em que a 2ª condição ia ajudar a cumprir a primeira por nos proporcionar mais escolha e oportunidade). Ok, se calhar havia mais algumas condicionantes.... Transformar-me numa sociopata assassina estava fora de questão. Ser ladra de joias também não cairia bem lá em casa :). Ser mal educada valia-me um olhar furibundo e eu sabia que tinha passado as marcas.
Mas a verdade é que sempre tivemos muita liberdade para escolher o nosso caminho e o que nos fazia felizes. E sempre que outras pessoas questionaram essas escolhas e esses caminhos, eu nem tinha tempo de me defender que a minha mãe já tinha largado a artilharia pesada para proteger a filha desses julgamentos. Eu não tinha de usar vestidinhos nos dias de festa. "Ela anda mais feliz de calças de ganga". Eu deixei de ser obrigada a ir à missa na aldeia "Ela é maior e vacinada e se não quer ir à missa, tem todo o direito de não ir". Ninguém pergunta à minha mãe porque é que eu não sou casada porque ela própria não se preocupa com isso. Se eu estou feliz assim, siga! A minha mãe nunca me perguntou por filhos. Se amanhã lhe aparecer com uma criança inuit, ok, é esse o teu caminho para a felicidade? "Estou feliz por ti filha!". Eu não tenho de aparecer todos os fim-de-semana lá em casa (por mim que os meus pais gostassem, percebem que preciso de tempo para mim). Eu não tenho de pentear o cabelo até ficar todo no lugar nem ser uma respeitável engenheira com um ar arrumadinho e direitinho. Não tenho de ter uma casa de praia nem um carrão de onde saem uma carrada de netos encantadores.
O que eu quero dizer com tudo isto, é que sou uma pessoa cheia de sorte. Deram-me o direito de ser feliz, mesmo que isso fosse de uma forma diferente do convencionalmente chamado normal. E lembro-me sempre disto, e dou graças a Deus por isto, sempre que detecto na vida das pessoas condicionalismos externos. Medo do que se vai dizer. Medo de magoar não sei quem.
E estou grata porque, como as únicas pessoas que me poderiam cobrar as decisões que tomo na vida são os meus pais e como a pergunta seguinte deles vai ser "Estás feliz?", desde que eu diga "Sim", tudo está bem!
Pode ser que eu abuse deste direito. Talvez. Talvez o use para desculpar egoísmos. Mas acima de tudo estou grata, infinitamente grata, por me deixarem escolher como quero ser feliz. Se calhar isto não é nada de especial. Se calhar afinal toda a gente tem pais assim. Pode ser.
Mas que os meus pais são especiais, acreditem que são!
Comentários
Não te desejo felicidades, porque já tens de sobra!!! : )
O que eu quero dos meus filhos é isso mesmo: que procurem a sua felicidade.
Um abraço*
A minha mãe dizia muitas vezes que podia até nem compreender ou concordar com as minhas escolhas, mas elas eram minhas e como tal aceitava-as, por gostar de mim. Sei que algumas deve ter tido mesmo dificuldade em aceitar, mas nunca a ouvi dizer o contrário! Por isso mesmo lhe estou grata, muito grata!
Já o meu pai, e especialmente após a morte da minha mãe, não só não as aceitava, como tinha o mau hábito de as criticar de forma mesmo muito negativa, o que contribuiu para que crescesse a lidar mal com críticas...
Que bom deve ser crescer com pais assim!!!
Não tive essa sorte...tudo quanto fazia..e faço...é sempre criticado! Que é que eles ganharam com isso? (para além da minha infelicidade durante grande parte da minha vida...e algumas "cabeçadas" durante o meu percurso) Hoje em dia mal me relaciono com eles, como o meu irmão escolheu ser igual a eles, também mal me relaciono com ele também. Restam-me os meus filhos...o que desejo para eles na vida? Sinceramente e acima de tudo...que sejam felizes!!!