Mauritânia #4

Uma rua normal numa zona residencial
Ok, está na hora de escrever um post decente.
Nouakchott. A capital. A primeira coisa que me vem à cabeça é que tudo é relativo. Que no que toca a África, os meus padrões são vários e é impossível não fazer comparações. E por isso, acho a cidade mais limpa do que as de Angola. Sinto-me mais segura. Embora se calhar o que me vale é que já não devo valer muitos camelos. Mas continuo a ser uma carteira com pernas de alguma forma. Bom, na verdade como qualquer turista em qualquer lugar do mundo, mas enfim.
O calor aperta durante o dia, mas é um calor seco, opressivo. Um calor que se sente na pele e sinto-me a fritar. E dizem, o calor ainda não começou. Que agora é que vai começar a doer. Eu, que não sou miúda de calor, até me arrepio só com a ideia.
Não consigo convencer-me que estou numa capital. Falta-lhe a grandiosidade. Aqui, grandes, só os muros compridos das embaixadas. Não estranho os talhos ao ar livre com peças de cabrito penduradas e umas nuvens de moscas esvoaçantes quando alguém se mexe por perto. Não estranho o cheiro do mercado onde passei hoje. Não estranho os preços exorbitantes que me pedem pelos tecidos (de má qualidade, diga-se) sintéticos que vi por ali. Andei pelas lojas de artesanato com as regras do costume: nem sequer perguntar o preço a não ser que queira mesmo comprar. O pouco que comprei foi por um preço que eu acho justo, adequado à qualidade da caixa de madeira ou do cesto de roupa suja em vime para o meu colega.
Há esplanadas, mas esqueçam lá as bejecas. Por aqui, são ilegais. Quase que me apetece pôr um lenço na cabeça para passar mais despercebida.
A cidade é em esquadria e na zona onde circulo começo a orientar-me. Mas não foi fácil. Tudo tem um ar igual, entre o branco e o amarelado, com uns tons terra aqui e ali. Os muros sucedem-se uns aos outros.
As conchas. Omnipresentes. A falta de verde. Vai saber tão bem aterrar e pegar no carro rumo a casa, às árvores, ao verde.
Se conseguir ficar aqui a trabalhar? Claro que sim. Já aprendi que consigo isso em qualquer lugar, desde que tenha livros e música a coisas para entreter as mãos. Mas não me parece um lugar fácil. Falta o que fazer fora de portas. Não há-de ser fácil aparvalhar com uns copos de gin tónico como fazíamos em Luanda.
Mais um alfinete no meu mapa do mundo. Mas não um particularmente interessante. Saio daqui com imenso respeito por quem cá está a trabalhar, a viver, a lutar e a continuar a sorrir.

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