A outra história do terramoto no Nepal
Sim, estou no Nepal. Estamos no Nepal. O terramoto aconteceu quando estávamos em trânsito na Índia mas, porque as notícias que recebemos de Katmandu logo a seguir não eram catastróficas, decidimos vir.
Não vos vos negar que nos interrogamos constantemente sobre se fizemos bem. Não estão a ser as férias ligeiras que tínhamos pensado. Mas estamos cá, a viver algo único, para o bem e para o mal.
Logo no primeiro dia percebemos que o que estava a passar nos noticiários internacionais devia ser alarmante. As mensagens que todos cá em casa recebem indicam isso. Mas só ontem nos sentámos a ver a CNN e percebemos até que ponto a história que está a ser contada é parcial.
Não estou a conseguir colocar fotos neste post e mostro-vos quando lá chegar, mas vamos lá começar a esclarecer umas coisas. E comecemos pela mais importante: Katmandu está de pé.
E agora uma coisa de cada vez:
eu diria que nem 1% dos edifícios caíram. Efectivamente caíram, total ou parcialmente, vários templos. Infelizmente muitos deles icónicos e património mundial;
algumas casas caíram. Algumas perderam algumas paredes. Houve prédios que tombaram de maneiras estranhas que fazem lembrar a liquefação das areias que se lê nos livros;
muitos mais prédios têm rachas; alguns claramente não aguentam outro sismo mas em muitos deles as fissuras são na ligação entre os panos de alvenaria e as lages e os pilares;
não há água corrente (e é dificil comprar tanques de água) nem luz e isso vai ser preocupante nos próximos dias;
as pessoas estão nos parques e espaços abertos. Estão calmas, pacientes, sem zangas. Quando circulamos de máquina em punho, não nos olham irritados. Ontem vimos uma zona de distribuição de comida: atrás uma linha de pessoas, na mais absoluta calma, esperava tranquilamente;
as imagens que vos mostram de Katmandu são absolutamente parciais: vocês não têm como saber, mas o que vos mostram são meia dúzia de lugares diferentes, filmados de vários ângulos portanto parecem coisas diferentes. Não vos mostram as ruas funcionais. Rachas na estrada? Há 2 por onde tenhamos passado na cidade toda;
a casa onde eu estou não tem uma única racha.
Não tenho a menor dúvida que os hospitais estão a abarrotar. Não tenho dúvidas que estarão com falta de medicamentos e material médico e médicos e enfermeiros.
Não tenho dúvidas que ficaram pessoas debaixo das casas e dos templos.
Não tenho dúvida nenhuma que a situação nas aldeias é francamente pior. Essa notícia já tinha chegado aqui: que a devastação nas aldeias era muito grande, as casas não aguentaram. E nessas aldeias, algumas delas remotas, o socorro vai demorar. E gente morreu e se calhar continuará a morrer nos próximos dias. E claro que, se uma morte é mau, as cerca de 4000 de que se fala agora é uma catástrofe.
Mas o que vocês vêm nas notícias, sobretudo em Katmandu, é apenas a parte má da história. É apenas a tragédia que vende jornais e telejornais. Ontem, havia muito mais gente nas ruas a circular. A pé, de mota, de carro. Algumas lojas começaram a abrir e começava a sentir-se a vida a regressar à normalidade.
Foi um terramoto terrível. Mas o país não está nem de perto nem de longe no estado em que vocês estão a ver. Dêem-me o crédito de estar cá e estar a ver Katmandu com os meus olhos.
Não vos vos negar que nos interrogamos constantemente sobre se fizemos bem. Não estão a ser as férias ligeiras que tínhamos pensado. Mas estamos cá, a viver algo único, para o bem e para o mal.
Logo no primeiro dia percebemos que o que estava a passar nos noticiários internacionais devia ser alarmante. As mensagens que todos cá em casa recebem indicam isso. Mas só ontem nos sentámos a ver a CNN e percebemos até que ponto a história que está a ser contada é parcial.
Não estou a conseguir colocar fotos neste post e mostro-vos quando lá chegar, mas vamos lá começar a esclarecer umas coisas. E comecemos pela mais importante: Katmandu está de pé.
E agora uma coisa de cada vez:
eu diria que nem 1% dos edifícios caíram. Efectivamente caíram, total ou parcialmente, vários templos. Infelizmente muitos deles icónicos e património mundial;
algumas casas caíram. Algumas perderam algumas paredes. Houve prédios que tombaram de maneiras estranhas que fazem lembrar a liquefação das areias que se lê nos livros;
muitos mais prédios têm rachas; alguns claramente não aguentam outro sismo mas em muitos deles as fissuras são na ligação entre os panos de alvenaria e as lages e os pilares;
não há água corrente (e é dificil comprar tanques de água) nem luz e isso vai ser preocupante nos próximos dias;
as pessoas estão nos parques e espaços abertos. Estão calmas, pacientes, sem zangas. Quando circulamos de máquina em punho, não nos olham irritados. Ontem vimos uma zona de distribuição de comida: atrás uma linha de pessoas, na mais absoluta calma, esperava tranquilamente;
as imagens que vos mostram de Katmandu são absolutamente parciais: vocês não têm como saber, mas o que vos mostram são meia dúzia de lugares diferentes, filmados de vários ângulos portanto parecem coisas diferentes. Não vos mostram as ruas funcionais. Rachas na estrada? Há 2 por onde tenhamos passado na cidade toda;
a casa onde eu estou não tem uma única racha.
Não tenho a menor dúvida que os hospitais estão a abarrotar. Não tenho dúvidas que estarão com falta de medicamentos e material médico e médicos e enfermeiros.
Não tenho dúvidas que ficaram pessoas debaixo das casas e dos templos.
Não tenho dúvida nenhuma que a situação nas aldeias é francamente pior. Essa notícia já tinha chegado aqui: que a devastação nas aldeias era muito grande, as casas não aguentaram. E nessas aldeias, algumas delas remotas, o socorro vai demorar. E gente morreu e se calhar continuará a morrer nos próximos dias. E claro que, se uma morte é mau, as cerca de 4000 de que se fala agora é uma catástrofe.
Mas o que vocês vêm nas notícias, sobretudo em Katmandu, é apenas a parte má da história. É apenas a tragédia que vende jornais e telejornais. Ontem, havia muito mais gente nas ruas a circular. A pé, de mota, de carro. Algumas lojas começaram a abrir e começava a sentir-se a vida a regressar à normalidade.
Foi um terramoto terrível. Mas o país não está nem de perto nem de longe no estado em que vocês estão a ver. Dêem-me o crédito de estar cá e estar a ver Katmandu com os meus olhos.
Comentários
Tudo de bom para voçês e tenham cuidado.
Gosto do que escreve e como escreve. Gosto que goste de Angola e da moamba e do funge.
Desejo que esteja bem como parece e apesar de estar numa zona de crise está a viver a experiência de uma vida.
Vou segui-la. Beijinhos.
Manuela Grangeia
Bem-vinda!
Olhando para o seu apelido, eu diria que descobriu este blog via o facebook do Miguel Grangeia que tenho o prazer de considerar um amigo.
Um abraço,
Sandra