Sem rede

Ontem, ao falarmos desta aventura que hoje começa, uma amiga disse qualquer coisa como eh pá, desta vez vais mesmo sem rede. Tudo é novo, nada que tu conheças. Nadinha! É preciso coragem! 
Sim, desta vez vou sem rede. Já antes tinha ido para países sem conhecer ninguém, mas ia com a empresa de sempre. Ou até ia trabalhar sobretudo com empresas que não conhecia mas havia famílias de adopção a garantir um porto seguro. Havia sempre alguém a quem recorrer em dias maus.
É verdade que conheço lá gente. Alguns estão a uns km mas são amigos de longa data. Outros são recentes mas são gente boa com quem nos identificamos logo. Mas ainda assim... Cidade nova, casa nova, transportes novos, língua de viver a vida nova, emprego novo, gente nova por todo o lado. Suponho que devia estar aterrada.
Ou talvez não. Porque na verdade isto não é muito diferente de vir para o Porto estudar. Ao fim de 24 horas meti-me num autocarro e fugi para casa porque me sentia profundamente sozinha. Uns anos depois, quando fiz o Erasmus, entrei de coração apertado no avião mas decidi que conseguia. Quando me mudei para Lisboa para trabalhar, já não só sabia que conseguia como decidi que ia descobrir o que de bom Lisboa tinha para me oferecer. Marrocos custou um bocadinho mas de vez em quando é preciso isso para percebermos aquilo com que nos identificamos ou não. Espanha era aqui ao lado. Angola era a oportunidade de ver um mundo de que ouvia falar desde criança.
Por isso, na verdade, estas mudanças são tão frequentes na minha vida que quase não são história. Desta vez é um nadinha mais arriscado.
Se calhar é.
Mas também é verdade que a Sandra que hoje se mete no avião é muito mais confiante do que todas as anteriores. Eu sei que sou capaz.
Se correr mal? Volto. Enfio a viola no saco, baixo as orelhas, lambo as feridas uns dias e depois pego no batente de novo.
Como se dizia lá longe; sem maka!

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