Cooked
Confesso que fico com ar de parva de cada vez que alguém me diz que não sabe cozinhar. Eu percebo que alguém não goste de cozinhar, mas não saber parece-me quase impossível. Claro que falo de comida "normal", daquilo que comemos todos os dias. Claro que eu não sei cozinhar comida asiática, não percebo nada de comida nórdica (embora haja cá por casa uns livros que ando a explorar). Claro que não sei fazer mole mexicano ou tacos. Não sei fazer comida daquela gira com pingos de molhos exóticos espalhados pelo prato.
Mas sei fazer sopa, arroz de frango, cozido... sei fazer aquelas coisas que a minha mãe sempre fez e que eu a vi fazer desde pequena. Depois, e porque gosto, acrescentei umas coisas. E continuo a acrescentar sabores e pratos e modos de fazer as coisas. Mas os essenciais vinham de ver e de cheirar e de provar e de comer. Mas também já percebi que isto não é linear para toda a gente. E percebi, se calhar em Inglaterra mais do que em qualquer outro lugar onde morei, que essa arte se está a perder. Há filas e filas de prateleiras no supermercado cheias de embalagens que só precisam de ir ao micro-ondas. O porridge é de ir ao micro-ondas. O almoço normal é uma sandes comprada e um pacote de batatas fritas. E parece-me que há algo de profundamente errado nisso. Cozinhar é uma actividade básica para a nossa vida e a nossa sobrevivência.
E esse é exactamente o que este livro aborda. Fala dos 4 elementos básicos e como se cozinha com eles, como evoluíram, o efeito que tiveram em nós enquanto espécie. Vi o documentário (que recomendo vivamente) e agora ando a mergulhar no livro.
Há no prefácio um parágrafo muito bom (desculpem-me mas não o vou traduzir):
Cooking - of whatever kind, everyday or extreme - situates us in the world in a very special place, facing the natural world on one side and the social world on the other. The cook stands squarely between nature and culture, conducting a process of translation and negotiation. Both nature and culture are transformed by the work. And in the process, I discovered, so is the cook.
Sim, ele tem razão. Eu transformo-me um bocadinho sempre que experimento uma receita nova. Pode ser porque funciona, ou porque falha. Mas há sempre qualquer coisa.
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