Não há perguntas básicas

Hoje fui a uma reunião em substituição de um colega. Imaginava a manhã perdida porque íamos discutir transporte ferroviário e eu não percebo nada de comboios. Fui de computador debaixo do braço preparada para me sentar no fundo da sala a fazer outras coisas.
A primeira hora foi penosa. Uma coisa que se explica em 15 minutos demorou uma hora. Depois começaram a falar os gajos dos comboios. Explicaram tudo. Que comboios, que vagões, que capacidade de armazenamento. Quanto tempo demora a obter licenças e a ter autorização para pôr os comboios a circular. Quem tem comboios, quem tem vagões algures na Europa que os pode trazer para cá. O tamanho dos comboios. Quantos dumpers de terra leva cada vagão. Quantos comboios por dia em que fase da obra. E eu a sentir que não conseguia trazer nada para a mesa. Sandra, não há perguntas básicas. Pergunta o que quiseres porque depois de certeza que consegues aplicar o teu conhecimento e trazer ideias. Fiz perguntas básicas. No final, conseguimos pensar em coisas específicas que queremos perguntar às empresas durante a pré-qualificação para perceber se nos interessam. Mas eu continuava a zeros.
Até que de repente... comboios. Comboios são máquinas. As máquinas avariam. Porque avariam? Porque sim ou porque a manutenção é mal feita ou mal programada. Podemos perguntar como é que eles têm a manutenção estruturada. Não queremos ficar com comboios a menos porque avariaram todos. Um dos gajos dos comboios ficou a olhar para mim uns segundos. E eu queria meter-me debaixo da mesa porque só pensava que ele ia dizer que aquelas empresas levam a manutenção muito a sério. Mas não. Disse Não está mal pensado. Vamos perguntar se têm um processo documentado de manutenção. Isso já nos dá uma ideia de quanto levam isso a sério. 
E eu saí de lá a saber muito mais sobre transporte ferroviário. E a achar que afinal mereço o ar que respirei durante aquela reunião. E a achar que a maneira de trabalhar aqui, apesar de me parecer penosamente lenta, tem o seu quê de bem pensado. Vamos tirar tempo para pensar, vamos envolver os vários departamento, vamos perceber exactamente o que nos preocupa e é crítico. E eu começo a render-me.

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