Lãs, amigos, canetas. Tudo misturado no mesmo post

Duvido que haja por aí alguma artesã (ou aprendiz de feiticeiro ou o que quer que queiram chamar a quem gosta de fazer coisas com as mãos) que não tenha uns tecidos lá em casa que tem medo de cortar. Simplesmente há tecidos em que não temos coragem de meter a tesoura. Ou uns novelos de lã que continuam no cesto à espera do projecto certo.
Eu tenho muitos tecidos desses. Menos nas lãs. Mas tenho 3 novelos de lã que me foram oferecidos em 2009 ou 2010 pela Dona Maria. Conheci a Rosário via o blog dela acho eu. O que tenho a certeza é que, quando fui para Angola, recebi um dia um email dela a dizer que se algum dia precisasse de falar e dizer mal da vida, ela ouvia. A Rosário sabe umas coisas sobre África e percebeu ao que eu ia. Um dia, pouco depois, numa das vindas a casa, fui visitá-la. Foram umas horas fantásticas de conversa numa praia. E saí de lá com 3 meadas de uma lã que tinha algo de especial, embora eu não soubesse bem o quê. Parecia fiada à mão, um trabalho honesto e verdadeiro. Mas ela não me contou a história e só passado uns tempos percebi que a Rosário fiava mesmo.
Sempre olhei para aquelas meadas como uma coisa especial. Queria usá-las em projectos que as honrassem. E foram ficando no cesto.
Até ontem. Porque ontem abri a caixa do economato cá de casa para trocar de caneta de tinta permanente. Decidi que nos próximos tempos vou trocar a minha Rotring de estimação por uma Montblanc. Porque não? Chamem-me velha mas eu gosto de escrever a tinta permanente. Gosto da maneira como os aparos deslizam no papel. Gosto que me abriga a escrever mais devagar e a manter uma letra decente. Percebi que afinal tenho pelo menos 4. Para além destas duas, meti tinta na caneta com que aprendi a escrever na escola primária (sim, eu tinha uma professora à moda antiga, escrevíamos de tinta permanente para termos mais cuidado com os cadernos) e tenho a caneta do meu pai que seguramente não é usada há décadas. Vai tudo sair da caixa. Vou dar uso à tinta que mora nos tinteiros e evitar canetas descartáveis.
E vou andar com as minhas canetas num estojo que fiz ontem com as lãs da Rosário. Ainda sobra muita mas sinto que finalmente tenho um projecto decente para aquela lã. Vai andar comigo todos os dias, símbolo de amizade e generosidade. Muito melhor que qualquer estojo que eu comprasse aí algures. Muito, mas muito melhor!


Comentários

Rosário disse…
Há coisas estranhas! Há séculos que não vinha ler blogs e hoje deu-me para isto. Logo o teu foi o primeiro no feed e a falar de mim!
Tudo tem o seu tempo, de facto. Seja ler blogs ou encontrar o projecto perfeito para um fio especial.
Um grande abraço! Fiquei muito contente